clube de leitura de mulheres

Cala-te a boca! Fecha tuas pernas! Fique quieta!

Me dizem tantas vezes para eu me calar tanto que quando preciso dizer não consigo. Mas como? Me perguntam: “Por que você não se impõe, não se coloca, não fala do seu lugar?” Eu penso: “Eu não sei porquê”. Nunca sei diretamente dar aquela resposta certeira, mas penso o nosso único lugar de liberdade está dentro no nosso corpo-mente. Lá onde me digo: “aguenta firme, só falta mais um pouco para ser livre”, persevero e digo que vou conseguir. Só faz sentido se você aí do outro lado me escuta.

As experiências de vida de mulheres são marcadas por estas histórias de silenciamento. Nós somos habituadas a calar e quando realmente precisamos nos colocar, não sabemos. Às vezes, as diferentes opressões – são tantas que parecem infinitas – nos deixam apáticas, sem vontade de dizer, sem saber como dar um fim, fugir, transformar. Pensar e dizer andam na mesma rota, mas precisamos fazer isso juntas, compartilhar os vividos, dar nome aos perigos para saber o que fazer.

O clube de leitura de mulheres segue esta premissa. Margaret Atwood, autora de “O Conto da Aia” (1985), apostava na literatura e na conversa como um meio para se reconhecer e quebrar ciclos de dominação. Ela acreditava apaixonadamente que a leitura de literatura tem o poder de mover o pensamento, isso unido ao poder falar sobre o que se lê, e, exatamente este ato de falar – numa justa soma que equilibra ler e falar sobre – oferece uma saída para a opressão1.

Esta é a premissa da nova ação do “Somos Amadas”: Clube de leitura de mulheres. Selecionamos algumas obras de literatura escrita por autoras que abordam diferentes e semelhantes experiências de ser mulher, principalmente, em ser negra e de classe pobre. Leremos as vozes de:

  • Chimamanda Ngozi, “Hibisco Roxo” (2011);
  • Maya Angelou, “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” (1969);
  • Carolina de Jesus, “Quarto de despejo” (1960);
  • Françoise Ega, “Cartas a uma negra” (1978);
  • Paulina Chiziane, “Niketche: uma história de poligamia” (2001);
  • Ayòbámi Adébáyò, “Fique Comigo” (2020);
  • Buchi Emecheta, “As Alegrias da Maternidade” (1979);
  • Igiaba Scego, “Minha casa é onde estou” (2018);
  • Leonora Miano, “Estação das sombras” (2013);
  • Conceição Evaristo, “Olhos d’Água” (2014);
  • Alice Walker, “A cor púrpura” (1985);
  • entre outras…

Além de fazer ecoar estas vozes em nossos corações e pensamento, vamos também trocar palavras, cartas sobre o processo que pretendemos compartilhar aqui neste espaço. Nossos encontros serão mensais, na última sexta-feira de cada mês.

1 Ideia recolhida do livro “Religious Fundamentalisms and the Systematic Oppression of Women” de Molly Hines (2008).